segunda-feira, 21 de novembro de 2016


REPONTE

A pata de cavalo, a dente de cachorro e a gritos vou repontando esta minha sina de escrever sobre o Sul de nós mesmos. Tirando a literatura do mato como se fosse novilha gaviona. Assim me vou, de rédea curta, com o chapéu tapeado, ouvindo o tilintar das chilenas e tenteando a barbela do freio. Não me importo com a cor do pelo nem com o tamanho da aspa do torena. Para quem vive enforquilhado, uma rodada é coisa pouca. Por isso parceiro, tem a hora da gritaria, da balbúrdia, da cachorrada, mas existe também o momento de se assobiar miúdo, fazer "bichinho" com a boca para não assustar as palavras, como se faz com redomão recém domado. Cuido daquilo que gosto e escrevo todos os dias pensando nessa gente humilde que ainda vive à beira dos corredores sem fim da campanha, nos fundões de campo, nos casebres simplórios de chão batido. Desculpem-me os homens de fama, poder e recursos, porque também  entre eles existem os retos e generosos, mas me criei entre os deserdados, os feridos, os estropiados, os esculachados, os  miseráveis que perambulam dia e noite pelos confins do medo e da desesperança.

Quando passo pela porta dessas lanchonetes aqui na capital e enxergo as garrafas empilhadas nas prateleiras de vidro, logo me vem à cabeça meu velho bolicho beira de estrada. O balcão riscado de faca, o cheiro do fumo em rama, a balança bico-de-pato, as latas de sardinha, as tuias cheias até a boca de arroz e feijão, as sacas de farinha de trigo, os biscoitões, o sorvete seco, os tijolinhos, as garrafas de cachaça lado a lado (que iam sendo consumidas lentamente, dia a dia), os bancos, os cepos e as cadeirass de palha com os assentos barbudos. Pela porta escancarada, tínhamos pena dos cuscos assoleados, língua de fora, debaixo dos ciprestes, e víamos, ao longe, as tropas, as carretas, os tratores, os gaúchos a pé e de bicicleta, uns bem montados, outros só com freio e pelego na mão. Ah, meus amigos, foi naquele tosco confessionário campeiro que ouvi as mazelas do povo sofrido, dos tropeiros, dos changueiros, dos alambradores, dos esquiladores, dos domadores, dos motoristas, dos lavradores e até dos curandeiros, dos carpeteiros e dos carreiristas de cancha reta.

Daqui onde estou, vejo uma montanha em que a cidade avançou e uma nesga de mato, uma pequena estradinha que lembra um antigo corredor da infância, de terra vermelha e batida. Volto no tempo e sou guri, outra vez, montado no Tostado, só com um pelego apertado pelo cinchão. Os aramados dos dois lados, gado charolês numa invernada, uma tropilha de Crioulos na outra. Firmo a vista e estou, outra vez, repontando um  lote de vacas leiteiras para saltarem no banheiro dos Abreu. Olha lá, a Zebua, vaca boa de leite, a Pretinha, a Picaça, a Bezinha e até o terneirinho jaguané que  morreu quebrado numa toca de tatu. O passado e o presente se confundem na minha mente saudosa e inventiva.

Meus amigos, reponto um tropa de perguntas que ficam sem respostas, por serem teatinas. Eu crio e recrio e também sou imaginário do pago. E me vou, repontando a vida, revendo saudades e adivinhando por quem ainda bate o coração da gauchada.

Compilado da coluna Campereada de Paulo Mendes, no Correio do Povo de 20/11/2016.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O 20 DE SETEMBRO.


                                                                  A CHAMA CRIOULA

O simbolismo do fogo

O Fogo é um dos quatro elementos da natureza (água, terra, fogo e ar) e que o ser humano pode produzir, fazendo uma conexão entre os homens e Deuses. A maioria dos rituais, ao longo da história, envolve uma chama eterna, e acender o fogo é equiparado com o nascimento e ressurreição. É um princípio criador por excelência, símbolo da energia vital, da purificação, da espiritualidade, do entusiasmo e do ardor.

A chama Crioula - Momento sociopolítico.

O Brasil, no final dos anos 40, estava saindo da ditadura da chamada "Era Getúlio Vargas", que havia calado a imprensa, que prejudicava o desenvolvimento e prática das culturas regionais. Com isso, perdeu-se o sentimento de culto à regionalidade. As raízes regionais estavam em processo de esquecimento, adormecidas, reflexo da proibição de demonstrações de valores de cada um dos estados. Bandeiras e hinos dos estados foram, simbolicamente, queimados em cerimônia no Rio de Janeiro e, diante de tudo isso, os gaúchos estavam acomodados àquela situação, apáticos e sem iniciativa.

Foi então que liderados pelo jovem João Carlos D'Avila Paixão Cortes, jovens estudantes do Colégio Júlio de Castilhos criam um departamento de tradições gaúchas, que tinha a finalidade de preservar as tradições e o campeirismo do estado, mas também desenvolver e proporcionar uma revitalização da cultura rio-grandense, interligando-se e valorizando-a no contexto da cultura brasileira.

Assim surge a criação da Ronda Crioula que foi em 7 de setembro, com a extinção da pira da pátria, até o dia 20 de setembro, as datas mais significativas para os gaúchos.

Paixão Cortes solicitou a Defesa Nacional para retirar uma centelha do "Fogo Simbólico da Pátria" para transformá-la em "Chama Crioula", como símbolo da união indissolúvel do Rio Grande à Pátia Mãe, e o desejo de que a mesma aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros até o dia 20 de setembro, data magna estadual. Foi assim que Paixão recebeu o convite  para montar uma guarde de honra ao general farrapo, David Canabarro, que seria transladado de Santana do Livramento para Porto Alegre. Então Paixão reuniu um piquete de oito gaúchos bem pilchados e, no dia 5 de setembro de 1947, prestaram a homenagem a Canabarro.

O Grupo dos Oito

O piquete que transladou os restos mortais de David Canabarro ficou conhecido como o "Grupo dos Oito" ou "Piquete da Tradição". Era formado por Antonio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Cortes,  seu líder.

A Chama Crioula - acesa pela primeira vez no dia 07/09/1947.

A "Chama Crioula" representa para o gaúcho e o tradicionalista a história, a tradição, a alma da sociedade gaúcha, construída ao longo de pouco mais de três séculos. Em torno dela construímos um ambiente de reverência ao passado, de culto aos feitos e fatos que nos orgulham, de reflexão sobre a sociedade que somos e a que queremos ser.

Como um símbolo que une nosso estado, ela estará presente em todos os galpões, todos os acampamentos, todas as manifestações  de amor à tradição, ardendo no candeeiro, sempre carregada de a cavalo por homens e mulheres que sabem o que fazem e o que querem.

Todo o ano é feita a busca da chama nos sítios históricos espalhados pelo Rio Grande do Sul e é distruibuída à todos os Regiões Tradicionalistas.

O Translado: As bandeiras vão na frente. A chama logo depois delas. Quem leva a chama, ao chegar, alcança o archote para alguém escolhido que vai fazer o acendimento do candeeiro normalmente após o canto do hino nacional.

A ronda da chama:  A ronda não é estática, ela é móvel. A ronda também pode ser entendida como o ato de trocar a chama de lugar a cada dia. A ela pode-se incluir uma serie de atividades no entorno da chama.

A guarda da chama: A guarda da chama é feita por uma ou duas pessoas que ficam paradas (no estilo militar), normalmente de lança em punho durante as 24 horas. A troca de guarda deve sempre ser feita com um breve cerimonial. A entrega da lança e a troca de lugar deve ser feita de forma solene.

A fala na troca de guarda: Não existe uma fala padrão, por ser neste momento, uma situação que envolve muito a emoção do que se está fazendo. É muito usado a parte final da fala que foi usada no primeiro acendimento: "...entrego esta chama para o fortalecimento das nossas tradições e maior honra e glória da nossa sagrada querência e do povo gaúcho." seguindo de um forte "E VIVA O RIO GRANDE!"

A CHAMA CRIOULA E SEUS ACENDIMENTOS. (sítios históricos)

2001 - Guaiba, na fazenda de Gomes Jardim

2002 - Santa Maria, no coração do estado.

2003 - Camaquã, na Chácara das Águas Belas, de Barbosa Lessa.

2004 - Erechim, no Recanto dos Tauras.

2005 - Viamão, cidade fundamental na história do RS.

2006 - São Gabriel, na Sanga da Bica, onde tombou Sepé Tiarayú.

2007 - São Nicolau, 1ª Redução e um dos Sete Povos das Missões.

2008 - São Leopoldo, Terra de Colonização Alemã.

2009 - São Lourenço, no casarão de Ana, irmão de Bento Gonçalves.

2010 - Itaqui, o acendimento volta para a fronteira.

2011 - Taquara, cinquentenário da Carta de Princípios.

2012 - Venâncio Aires, Capital Nacional do Chimarrão.

2013 - General Câmara, Distrito Açoriano de Santo Amaro do Sul.

2014 - Cruz Alta, Terra de Érico Veríssimo.

2015 - Colônia no Uruguai, com distribuição no Chuí.

(Transcrito do Informativo do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, distribuído aos participantes).
















terça-feira, 10 de setembro de 2013

Semana Farroupilha

Caríssimos conterrâneos deste Estado maravilhoso, mais  um setembro chega, com chuvas, com sol forte, com os últimos frios do inverno, mas muita alegria, pois todo o Rio Grande do Sul, esta mais uma vez montando seus acampamentos, onde até dia 20/09, estarão festejando os feitos de nossos antepassados que defenderam nossos ideais a ferro e fogo daqueles que queriam nos sobrepujar com cobranças injustas. Hoje e a corrupção que campeia neste Pais e parece que teremos de amarrar nossos cavalos em outras plagas, mas isso e assunto para outro dia. Agora que mandar um abraço do tamanho do Rio Grande para toda a gauchada de todas as querençias desse mundo de Deus.
Parabéns a todos pela semana Farroupilha e vamos continuar festejando com todo o empenho e alegria.
Dia 13 estarei churrasqueando com antigos colegas de serviço no Piquete da Petrobras,  no Parque da Harmonia, em Porto Alegre e postarei outro dia algumas fotos que com certeza farei no local.
Grande abraço.
Carlos Cunha -  naturalidade São Francisco de Assis, hoje Esteio- Rs.

Sentimentos da Alma


Arnaldo Jabor 

O Rio Grande do Sul é como aquele filho que sai muito diferente do resto da família. A gente gosta, mas estranha. O Rio Grande do Sul entrou tarde no mapa do Brasil . Até o começo do século XIX, espanhóis e portugueses ainda se esfolavam para saber quem era o dono da terra gaúcha. Talvez por ter chegado depois, o Estado ficou com um jeito diferente de ser.

Começa que diverge no clima: um Brasil onde faz frio e venta, com pinheiros em vez de coqueiros, é tão fora do padrão quanto um Canadá que fosse à praia. Depois, tem a mania de tocar sanfona, que lá no RS chamam de gaita, e de tomar mate em vez de café. Mas o mais original de tudo é a personalidade forte do gaúcho. A gente rigorosa do sul não sabe nada do riso fácil e da fala mansa dos brasileiros do litoral, como cariocas e baianos. Em lugar do calorzinho da praia, o gaúcho tem o vazio e o silêncio do pampa, que precisou ser conquistado à unha dos espanhóis.

Há quem interprete que foi o desamparo diante desses abismos horizontais de espaço que gerou, como reação, o famoso temperamento belicoso dos sulinos.
É uma teoria - mas conta com o precioso aval de um certo Analista de Bagé, personagem de Luis Fernando Veríssimo que recebia seus pacientes de bombacha e esporas, berrando: "Mas que frescura é essa de neurose, tchê?"

Todo gaúcho ama sua terra acima de tudo e está sempre a postos para defendê- la. Mesmo que tenha de pagar o preço em sangue e luta.
Gaúcho que se preze já nasce montado no bagual (cavalo bravo). E, antes de trocar os dentes de leite, já é especialista em dar tiros de laço. Ou seja, saber laçar novilhos à moda gaúcha, que é diferente da jeito americano, porque laço é de couro trançado em vez de corda, e o tamanho da laçada, ou armada, é bem maior, com oito metros de diâmetro, em vez de dois ou três.

Mas por baixo do poncho bate um coração capaz de se emocionar até as lágrimas em uma reunião de um Centro de Tradições Gaúchas, o CTG, criados para preservar os usos e costumes locais. Neles, os durões se derretem: cantam, dançam e até declamam versinhos em honra da garrucha, da erva-mate e outros gauchismos. Um dos poemas prediletos é "Chimarrão", do tradicionalista Glauco Saraiva, que tem estrofes como: "E a cuia, seio moreno/que passa de mão em mão/traduz no meu chimarrão/a velha hospitalidade da gente do meu rincão." (bem, tirando o machismo do seio moreno, passando de mão em mão, até que é bonito).

Esse regionalismo exacerbado costuma criar problemas de imagem para os gaúchos, sempre acusados de se sentir superiores ao resto do País.

Não é verdade - mas poderia ser, a julgar por alguns dados e estatísticas.
O Rio Grande do Sul é possuidor do melhor índice de desenvolvimento humano do Brasil, de acordo com a ONU, do menor índice de analfabetismo do País, segundo o IBGE e o da população mais longeva da América Latina, (tendo Veranópolis a terceira cidade do mundo em longevidade), segundo a Organização Mundial da Saúde. E ainda tem as mulheres mais bonitas do País, segundo a Agência Ford Models. (eu já sabia!!! rss) Além do gaúcho, chamado de machista", qual outro povo que valoriza a mulher a ponto de chamá-la de prenda (que quer dizer algo de muito valor)?
Macanudo, tchê. Ou, como se diz em outra praças: "legal às pampas", uma expressão que, por sinal, veio de lá.

Aos meus amigos gaúchos e não gaúchos, um forte abraço!

Arnaldo Jabor - Os Gaúchos

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

                               MAIS UM TIRO DE LAÇO NA HARMONIA- ALA PUCHA...
                      PROVA DE TIRO DE LAÇO NO PARQUE DA HARMONIA EM POA-Rs.